Confesso que deve ser tão raro, como fazer com um ser humano dito normal, perceber as premissas da teoria do caos, mas a verdade é que "a coisa se dá".
Não é segredo para ninguém que o nascimento da minha filha resultou de uma bela história de amor que terminou de uma forma abrupta, dolorosa, desrespeituosa e muitas outras coisas de gravidade extrema, que para este contexto não vêm agora ao caso.
O facto é que sensivelmente até aos primeiros 5 anos de vida da minha filha foi um inferno pegado; desde os contactos entre progenitores serem apenas possíveis com o intermédio dos respectivos advogados, processos de regulação de responsabilidades parentais, incumprimentos e situações piores que também não aportam agora qualquer valor, mas sobretudo o que impera é que tinha/tenho todos os motivos do mundo e arredores para não suportar aquela pessoa que em tempos....foi um grande amor e com quem quis ter um filho.
A minha postura manteve-se trancada, pois quando não suporto uma pessoa, não consigo escondê-lo e, não obstante existir uma criança que partilha código genético de ambos, foram anos sem lhe olhar para a cara, isto para não dizer outra coisa, diálogo = 0. Tudo o que estava relacionado com a criança era por mim transmitido através de sms e assim foi, com algumas situações mesmo assim tensas pelo meio.
Mas dizia eu no início que as coisas andaram neste pé até cerca dos 5 anos da criança; a partir daí e ainda não acreditando eu em estórias da carochinha, um certo dia recebo uma chamada telefónica da pessoa em questão, foi uma longa conversa, algo que tentei ao início evitar, mas dados os estímulos positivos e aparentemente honestos que fui recebendo do outro lado, a conversa estendeu-se, retornou-se ao passado, não importa também o cerne da questão, mas naquele dia ouvi entre outras coisas uma palavra que me fez aterrar: Perdão.
Quando uma pessoa pede perdão e tem essa capacidade, quero acreditar que a ficha caiu algures e que a pessoa percebeu exactamente que fez merda e onde é que essa merda residiu. E foi aí que, como se de um golpe de magia a minha raiva e sentimentos maus face àquela pessoa, se tenham desconectado, tal como quando lhe caiu a ficha. E disse-lhe exactamente isso, que podia estar a ser tão crápula como havia sido antes, podia estar a ser desonesto, mas o meu ser humano necessitava daquele pedido de Perdão não que naquela altura lho tenha concedido - quem sou eu para conceder perdão seja a quem for, mas a mágoa não passa assim; lamento mas também eu sou imperfeita.
Daí para a frente a verdade é que as atitudes do senhor em causa salvo rarissimas excepções que também advêm da minha falta de abertura, é certo, têm sido consonantes com algumas "promessas" que me fez e às quais não dei grande crédito. Pensei, eu conheço-o, já sei o que a casa gasta.
Mas não. Tem feito os possíveis por estar com a miúda quando lhe é possível, não é perfeito, falta muita coisa, mas tem sido de uma humildade perante a minha pessoa que não lha reconhecia e não acreditaria que assim seria se me dissessem isto há algum tempo atrás.
A última: reunião de pais e encarregados de educação da criança, como sempre informei, e quando lá chego lá estava ele, isto quando ainda teve o cuidado de me mandar uma sms que confesso não vi, a informar que tinha chegado e esperava por mim para entrarmos juntos. Como eu não respondi, entrou, obviamente, mas mal cheguei desculpou-se pelo facto. WTF!
Muito embevecido com os trabalhos da sua filha, muito orgulhoso com as notas e avaliações qualitativas, muito inchado com as redacções e com o brio com que ela faz os trabalhos; mais embevecido ainda quando a professora, ignorando os restantes pais, se aproxima de nós e diz "A nossa Rita é o máximo, mas tem uma veia de atriz que nem vos conto!"
Logicamente que saberia melhor o nível em que ela está, se o acompanhamento fosse mais estreito, mas não se constrói um arranha-céus em 2 dias. Adiante.
Quis ir buscá-la ao colégio, depois quis acompanhar-nos à natação, e eu cá para mim - "olha-me isto, parece a família feliz do Chinês".
Lá foi, mais uma vez todo orgulhoso das aptidões para a natação da filha, do carinho que a professora tem por ela, das condições do espaço, quanto é que pago, etc.
Mas a pérola, veio antes: deixo a criança no recinto da piscina, vou buscá-lo para o encaminhar às bancadas e o senhor em causa vem com um embrulho na mão e diz:
"Isto é para ti.!"
Com a minha antipatia generalizada nestas situações, pego no embrulho, chego às bancadas, sento-me e nisto:
"Come, se não comeres já perde a graça e eu sei que tu gostas. São panquecas regadas a chocolate; eu sei que tu gostas do chocolate!" - tomo isto como um gesto de humildade, simpatia com a mãe da filha, tentativa de enterrar o machado de guerra e acima de tudo respeito.
Se fosse outra altura tinha deitado aquilo fora à frente dele, mas não, comi as belas das panquecas e claro que o senhor tem razão, ou não me conhecesse os gostos peculiares por chocolate e coisas doces.
Não sei o dia de amanhã, nem tão pouco como acabarei o dia de hoje, mas nunca esperei depois de tudo o que se passou, que estas duas pessoas (eu e ele) chegássemos a um nível cordial afins.
Terminámos a noite com um "vai com cuidado" que também me caiu bem.
Há momentos em que não se podem evitar guerras, há momentos em que as pessoas fazem mesmo muita merda, mas afinal também há quem demonstre que cresceu e que vai fazendo lentamente um esforço por mudar e "reparar" erros passados, que, mesmo não dando para os reparar, fazer de tudo para apaziguar a dor causada nos outros.
Tem tido atitudes nobres e isso é de louvar.
Não é segredo para ninguém que o nascimento da minha filha resultou de uma bela história de amor que terminou de uma forma abrupta, dolorosa, desrespeituosa e muitas outras coisas de gravidade extrema, que para este contexto não vêm agora ao caso.
O facto é que sensivelmente até aos primeiros 5 anos de vida da minha filha foi um inferno pegado; desde os contactos entre progenitores serem apenas possíveis com o intermédio dos respectivos advogados, processos de regulação de responsabilidades parentais, incumprimentos e situações piores que também não aportam agora qualquer valor, mas sobretudo o que impera é que tinha/tenho todos os motivos do mundo e arredores para não suportar aquela pessoa que em tempos....foi um grande amor e com quem quis ter um filho.
A minha postura manteve-se trancada, pois quando não suporto uma pessoa, não consigo escondê-lo e, não obstante existir uma criança que partilha código genético de ambos, foram anos sem lhe olhar para a cara, isto para não dizer outra coisa, diálogo = 0. Tudo o que estava relacionado com a criança era por mim transmitido através de sms e assim foi, com algumas situações mesmo assim tensas pelo meio.
Mas dizia eu no início que as coisas andaram neste pé até cerca dos 5 anos da criança; a partir daí e ainda não acreditando eu em estórias da carochinha, um certo dia recebo uma chamada telefónica da pessoa em questão, foi uma longa conversa, algo que tentei ao início evitar, mas dados os estímulos positivos e aparentemente honestos que fui recebendo do outro lado, a conversa estendeu-se, retornou-se ao passado, não importa também o cerne da questão, mas naquele dia ouvi entre outras coisas uma palavra que me fez aterrar: Perdão.
Quando uma pessoa pede perdão e tem essa capacidade, quero acreditar que a ficha caiu algures e que a pessoa percebeu exactamente que fez merda e onde é que essa merda residiu. E foi aí que, como se de um golpe de magia a minha raiva e sentimentos maus face àquela pessoa, se tenham desconectado, tal como quando lhe caiu a ficha. E disse-lhe exactamente isso, que podia estar a ser tão crápula como havia sido antes, podia estar a ser desonesto, mas o meu ser humano necessitava daquele pedido de Perdão não que naquela altura lho tenha concedido - quem sou eu para conceder perdão seja a quem for, mas a mágoa não passa assim; lamento mas também eu sou imperfeita.
Daí para a frente a verdade é que as atitudes do senhor em causa salvo rarissimas excepções que também advêm da minha falta de abertura, é certo, têm sido consonantes com algumas "promessas" que me fez e às quais não dei grande crédito. Pensei, eu conheço-o, já sei o que a casa gasta.
Mas não. Tem feito os possíveis por estar com a miúda quando lhe é possível, não é perfeito, falta muita coisa, mas tem sido de uma humildade perante a minha pessoa que não lha reconhecia e não acreditaria que assim seria se me dissessem isto há algum tempo atrás.
A última: reunião de pais e encarregados de educação da criança, como sempre informei, e quando lá chego lá estava ele, isto quando ainda teve o cuidado de me mandar uma sms que confesso não vi, a informar que tinha chegado e esperava por mim para entrarmos juntos. Como eu não respondi, entrou, obviamente, mas mal cheguei desculpou-se pelo facto. WTF!
Muito embevecido com os trabalhos da sua filha, muito orgulhoso com as notas e avaliações qualitativas, muito inchado com as redacções e com o brio com que ela faz os trabalhos; mais embevecido ainda quando a professora, ignorando os restantes pais, se aproxima de nós e diz "A nossa Rita é o máximo, mas tem uma veia de atriz que nem vos conto!"
Logicamente que saberia melhor o nível em que ela está, se o acompanhamento fosse mais estreito, mas não se constrói um arranha-céus em 2 dias. Adiante.
Quis ir buscá-la ao colégio, depois quis acompanhar-nos à natação, e eu cá para mim - "olha-me isto, parece a família feliz do Chinês".
Lá foi, mais uma vez todo orgulhoso das aptidões para a natação da filha, do carinho que a professora tem por ela, das condições do espaço, quanto é que pago, etc.
Mas a pérola, veio antes: deixo a criança no recinto da piscina, vou buscá-lo para o encaminhar às bancadas e o senhor em causa vem com um embrulho na mão e diz:
"Isto é para ti.!"
Com a minha antipatia generalizada nestas situações, pego no embrulho, chego às bancadas, sento-me e nisto:
"Come, se não comeres já perde a graça e eu sei que tu gostas. São panquecas regadas a chocolate; eu sei que tu gostas do chocolate!" - tomo isto como um gesto de humildade, simpatia com a mãe da filha, tentativa de enterrar o machado de guerra e acima de tudo respeito.
Se fosse outra altura tinha deitado aquilo fora à frente dele, mas não, comi as belas das panquecas e claro que o senhor tem razão, ou não me conhecesse os gostos peculiares por chocolate e coisas doces.
Não sei o dia de amanhã, nem tão pouco como acabarei o dia de hoje, mas nunca esperei depois de tudo o que se passou, que estas duas pessoas (eu e ele) chegássemos a um nível cordial afins.
Terminámos a noite com um "vai com cuidado" que também me caiu bem.
Há momentos em que não se podem evitar guerras, há momentos em que as pessoas fazem mesmo muita merda, mas afinal também há quem demonstre que cresceu e que vai fazendo lentamente um esforço por mudar e "reparar" erros passados, que, mesmo não dando para os reparar, fazer de tudo para apaziguar a dor causada nos outros.
Tem tido atitudes nobres e isso é de louvar.
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