Podia ter sido memorável, mas não. Foi estúpida mesmo. Aquele género de estupidez inesperada, ou não fosse a estupidez sempre inesperada.
Ao início da semana e como efeito de uma conversa banal fiquei a saber que uma pessoa que vejo quase todos os dias tem um cancro num rim; vá…tinha. Foi-lhe retirado o rim e juntamente com ele o maldito tumor. Mas existem aquelas pessoas que falam abertamente das coisas levantam a camisola e mostram-nos uma cicatriz de ponta a ponta, mesmo eu não sendo impressionável, estando associado o tema cancro, passa a tocar-me em pontos sensíveis. Foi um balde de água fria.
O de água gelada veio anteontem quando estava tranquilamente ou nem tanto a trabalhar e se acerca a senhora que trata da manutenção do escritório desde sempre com ar de caso. Quando me aproximo dela desaba a chorar porque lhe tinham ligado do hospital a dizer que estava com cancro na mama. Ninguém está preparado para receber uma notícia destas e eu também não estava a contar com aquele embate. O que é que se diz a uma pessoa num momento destes? Uma pessoa que repete convulsivamente que “não quer morrer”, “não quer deixar as filhas”, porquê a ela. E eu desabo e já estava a lamber lágrimas também. Mas tive força suficiente para lhe pôr os pontos nos is e os traços nos ts.
É grave.
É uma doença maldita.
Foi uma notícia muito chata.
Não vai ser fácil
Vai custar….mas….a M. é uma mulher cheia de garra, trabalhadora, boa e vai conseguir enfrentar esta batalha com a mesma força com que viveu até hoje e nós que gostamos de si estamos cá para ouvir, dar afecto, e sobretudo pensar muito positivamente na sua recuperação.
É claro que depois aparecem aquelas pessoas com comentários que não interessam para nada e dizem barbaridades como: “isso não vai ser nada, o cancro já não é o que era, blá blá blá”.
Enfim, foram notícias pouco agradáveis e completamente desajustadas para aquilo que as pessoas em questão merecem, porque são boas pessoas.
Nunca, até hoje, todos os dias que passo por aquela Senhora, que não tem instrução, que limpa o que os outros sujam, mas nunca eu passei por ela, que ela não me tocasse no braço, me fizesse uma festa enorme e me perguntasse por mim e pela minha menina. Quando eu regressei há uns meses após a minha paragem forçada por alguns meses, quase fez rufar tambores quando me reviu. E pessoas assim são Muito, são Bastante, são Muitíssimo e merecem o melhor que a vida tem para oferecer.
Comentários