De há 24 anos a esta parte, este é um dos dias "não". Está aliás no top 3 dos dias "não". E assim será enquanto eu por cá também estiver.
Não foi sequer o último dia que vi a minha avó com vida. Neste dia, há 24 anos, não a vi sequer. Comunicámos fisicamente no dia anterior, e a partir daí que se lixe a República, mas é sempre aquele dia estranho em que a minha avó estava naquela cama de hospital fisicamente, mas a sua essência já não habitava aquele corpo. Mas respirava, a temperatura corporal era normal. Tinha (alguma) vida. No dia 6 tudo se desencadeou rapidamente, e às 12:50h partiu sem que lhe pudéssemos olhar jamais para aqueles maravilhosos olhos azuis.
O dia foi surreal. Notícia da morte, a minha premonição costumeira umas horas antes, tentar vê-la mas com as burocracias de morgues, foi impossível, folhear catálogos de caixões e lençóis e panos para cobrir a face. Tudo coisas que aos 20 anos eu nem sequer considerava que se passavam assim. Escolher a roupa, sapatos e eu, completamente anestesiada, mas pensando sempre onde raio estaria a minha avó e se, mesmo assim, inerte e sem vida, estariam a tratá-la com cuidado.
Mas a sensação continua a mesma. Uma saudade que me invade, uma saudade imensa, ter a noção que não a vejo há quase 1/4 de século, que tenho hoje a idade que a minha mãe tinha quando ela partiu, que já passou tanto tempo, mas que parece igualmente não ter passado tempo algum. Parece que a nossa última conversa ocorreu ontem, há escassas horas e ainda lhe sinto o cheiro, ainda tenho presente aquele olhar, aquela voz irrepetível e a força de viver. A generosidade, a empatia, a entrega ao próximo. A minha avó foi tudo e continua a ser, mas acima de tudo, foi mesmo uma Grande Mulher!
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