A minha filha em termos de colaboração inata para permitir que lhe sejam praticados actos médicos faz-me lembrar aquele touro mecânico das festas de Verão.
São precisas várias pessoas para a agarrar, grita, esperneia, chora, que nem a Maria Antonieta ao aproximar-se da guilhotina. E por mais que eu lhe diga que até ver tudo o que tem feito (vacinas e análises clinicas) é de facto inofensivo e que o facto de ficar naquele estado é que faz com que lhe custe...ela persiste. Aliás, persistia.
Tinha a vacinação dos 10 anos marcada para hoje, mas eu, como já sei o que me espera, não he disse nada, até hoje de manhã, mas sem lhe dar importância. Primeiro disse que tinha que se despachar, o que é normal de manhã, depois disse-lhe que tinhamos que ir ao Centro de Saúde e, perante a pergunta com os olhos esbugalhados acerca do que lá iríamos fazer, atirei com a bomba e segui a rotina.
No carro, com a proximidade da "casa dos horrores", perdão, do centro de saúde, lá lhe pedi encarecidamente para ser sensata, que as vacinas são necessárias para nos protegerem de doenças mortais, que a picadela não dói de facto nada, que de facto por vezes no pós vacina o braço pode ficar um pouco dorido e a mãe nesses casos faz festinhas e põe gelo....enfim, foi um belo e positivo monólogo pautado pela aflição dela. Terminei a lição com a cereja no topo do bolo - "não te esqueças que caso comeces a espernear, dados o teu tamanho e força, vão ter que chamar o segurança para te agarrar, o que é uma vergonha e acho que não queres passar por isso.
Seguimos, lá foi chamada, a enfermeira muito simpática e comunicativa, eu pus-me em pé à frente dela, disse-lhe que não a ia agarrar a priori porque confio no seu bom senso, limitei-me a segurar-lhe a cabeça, virada para o lado oposto ao da vacina, dei-lhe beijinhos....e plic, a primeira vacina estava dada. Larguei-lhe a cabeça e perguntou ela: "Oh, já está!?"
Foi perfeito. Não que enquanto mãe não me tivesse custado ver a agulha perfurar aquele bracinho perfeito, mas os fins justificam em muito os meios e há coisas bem piores.
Mas...só íamos a metade da tarefa, porque o plano dita que fossem 2 vacinas, 2 picadelas, uma em cada braço para não haver ciúmes. Repetimos o processo, desta vez com a cabeça virada para o outro lado e...plic, mais bicharocos para reforçarem o sistema imunitário da miúda contra o Tétano, HPV e afins.
Volta lá daqui por 6 meses para a segunda inoculação de uma delas, a outra só repete daqui a 15 anos e esperemos que ainda lá volte para a vacina contra o Covid-19 assim que a mesma seja uma realidade para todos nós.
Creio que finalmente desmistificámos a "coisa", a miúda lá deve ter interiorizado que afinal uma vacina não custa mesmo nada e que se mantiver a calma, mesmo que não seja algo que ame de coração, vai tudo correr melhor.
Eu, que pensava que saía de lá com uma picadela num destes braços que Deus ou seja lá quem for me deu, saio de lá com um adiamento de 10 anos. Pois que a vacina do tétano que tinha um periodo de valência de 10 anos, passou a 20 pelo que só lá volto em 2030, se continuar nesta "linda" vidinha no magnífico Planeta Terra.
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