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A dádiva

A minha filha (tal como todos os filhos deverão ser para os seus pais) é uma dádiva, uma bênção. Já não me imagino sem ela, parece que fez sempre parte da minha vida e afinal estamos juntas há "apenas" 3 anos.

É rebelde sim, tem uma personalidade vincada, não é nem vai ser uma criança fácil e a tarefa de a educar, de lhe transmitir valores também sei que vai ter os seus altos e baixos, pois ela já demonstra claramente o seu mau génio nalguns tópicos e a tendência humana em não querer acatar uma ordem à primeira.

Diz quem me conhece desde sempre que os nossos comportamentos são muito semelhantes e até as reacções a situações da vida quotidiana também, portanto estou a preparar-me psicologicamente para ter discussões filosóficas e até às tantas com a minha pequena.

Ontem, estávamos nós acompanhadas, ela a brincar e eu a conversar com outra pessoa e vira-se ela:

 - "Que tu tás a falar com a minha mãe?"

Confesso que lhe pedi para repetir, pois não quis acreditar no que estava a ouvir.

Hoje de manhã, andava eu para lá a deambular e a decidir que sapatos calçar, aleijei-me na ombreira da porta e vem ela a correr a querer agarrar-me o pé e eu sem perceber nada; resumindo, queria dar um beijinho no dói-dói da mãe.

Lá lhe expliquei que não dá beijinhos nos pés da mamã, porque andam no chão e tudo o que anda no chão não está limpo; resposta dela:

 - "Cando a Bébécas faz dó-dói no pé, a mamã também dá beijinhos!"

Já não lhe disse, mas pensei:

 - Sim filha, é verdade, dou e darei, tal como darei a minha vida por ti se me for permitido; mas jamais espero ou aprovo que queiras fazer o mesmo comigo.

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