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E recordar a última vez que nos vimos há uns anos atrás, em pleno aeroporto de Madrid, com aviões praticamente à mesma hora, eu, para Lisboa e ele para a Coruña.
Já não nos víamos há algum tempo, e ele, com aquele humor característico ainda gracejou que foi preciso ir a Madrid para eu o visitar; telefona-me, dizia ele, tens o meu número de casa, o telemóvel, o número do ISCTE, quero que me contes tudo, conta-me as tuas experiências miúda, colega...Dra... - invariavelmente tratava-me(nos) assim, aos alunos com quem sempre fez questão de manter uma relação próxima e amiga; e a minha admiração crescia.
Não resisto a olhar para a folha de rosto da minha Tese e ver lá o nome dele, lembrar-me que jurei a mim mesma que a entregava dentro do prazo estipulado - 30 de Junho de 2000; o Professor tinha-me traçado tantos desafios, e eu queria provar-lhe que não o desiludiria.
Repetia para eu não me preocupar, a data era estanque, mas não era assim tanto, ele era o Coordenador, se eu entregasse uns dias mais tarde, continuava a ter avaliação de época normal na mesma, e tranquilizava-me e aconselhava-me a reler o produto final;
Acho que mesmo assim não o desiludi mas:
E recordar a última vez que nos vimos há uns anos atrás, em pleno aeroporto de Madrid, com aviões praticamente à mesma hora, eu, para Lisboa e ele para a Coruña.
Já não nos víamos há algum tempo, e ele, com aquele humor característico ainda gracejou que foi preciso ir a Madrid para eu o visitar; telefona-me, dizia ele, tens o meu número de casa, o telemóvel, o número do ISCTE, quero que me contes tudo, conta-me as tuas experiências miúda, colega...Dra... - invariavelmente tratava-me(nos) assim, aos alunos com quem sempre fez questão de manter uma relação próxima e amiga; e a minha admiração crescia.
Não resisto a olhar para a folha de rosto da minha Tese e ver lá o nome dele, lembrar-me que jurei a mim mesma que a entregava dentro do prazo estipulado - 30 de Junho de 2000; o Professor tinha-me traçado tantos desafios, e eu queria provar-lhe que não o desiludiria.
Repetia para eu não me preocupar, a data era estanque, mas não era assim tanto, ele era o Coordenador, se eu entregasse uns dias mais tarde, continuava a ter avaliação de época normal na mesma, e tranquilizava-me e aconselhava-me a reler o produto final;
Acho que mesmo assim não o desiludi mas:
- Não entreguei uns dias mais tarde
- Não consegui ficar calma e tranquila
- Não reli o produto final
Tive os contratempos, qual Lei de Murphy; a impressora começou a desconfigurar tudo no fim - confesso que imprimir 3 originais com 420 páginas cada, não deve ter sido fácil. Encadernar aquilo foi um jogo de paciência para os meninos da reprografia; entreguei a dita "como manda a tradição" dentro de uma caixa de resmas de papel A4, mais um resumo de 2 páginas e a versão em CD-ROM - 30 de Junho de 2000 à tarde, eu, o meu padrasto, a minha irmã com os seus 12 anitos e a melhor amiga dela, Ana Rita.
Liguei-lhe à noite a comunicar o meu feito - tu és obstinada, dizia ele, mas de facto, nunca tinha duvidado que até nisso eu ia insistir e conseguir. Aconselhou-me a descansar nos próximos dias, aguardava-me o período de leitura da parte do Departamento e marcação da Defesa da Dissertação.
Não falámos nesses dias, até receber notícias da marcação de defesa, algures em meados de Julho - disse-me para ir ter com ele antes da hora; lá fui eu, com uma colega que assistiu - não divulguei a ninguém o dia, embora seja um acto público; apareceram algumas pessoas, mas não todas as que gostariam de ter ido e que mo demonstraram depois - não queria estar ali lavada em lágrimas com muita gente a assistir.
E nesses momentos anteriores, mais uma vez o Professor Paquete igual a ele próprio; olhava para a minha colega e falava com ela acerca de mim como se eu não estivesse presente; elogiava o meu esforço, o meu empenho e dizia aos 4 ventos que eu era das melhores alunas que teve, e eu enterrava-me.
Depois, naquela sala, ao lado do Prof. José Barreiros que fez parte do Júri, foi o Professor Doutor Paquete de Oliveira, o Mestre, a minha referência, o meu crítico - ainda estou para saber porque é que ele pegou numa frase minha no meio de tanta página e me perguntou "porque é que escreveste isto!?" e eu engasguei, não estava à espera de nada tão directo, respirei fundo e lá respondi uma barbaridade qualquer e pensei - mas porque raio está a ser tão duro!?...tão sério!?....ele estava com um semblante sério, não deixava transparecer o que lhe ia na cabeça e eu interiorizei....ok, tenho que a refazer, não fui excelente como ele me merecia.
Mandou-me sair, assim como a todos naquela sala para conferenciarem a nota final, apertou-me o ombro, mas eu continuava a não conseguir ler nada dele - toda a gente presente me dava os parabéns, que tinha corrido bem, mas os nervos tomaram conta de mim.
Voltámos 15 minutos depois, fizeram-me aquilo que eu assumi como golpe de misericórdia ou elogio fúnebre, e as palavras do Professor ecoam, passados 16 anos, como se as tivesse ouvido agora: aí sorria, com aquele sorriso franco, bom e aberto, deu-me os parabéns, que eu já nem ouvia e diz-me:
"Lamento informar-te que depois de tudo, de todo o trabalho, esforço, empenho, humildade, brio e inteligência, de teres produzido um conteúdo cientificamente rico, de já terem passado por mim Teses de Mestrado com qualidade ao nível da tua Tese de Licenciatura, por teres demonstrado uma maturidade conceptual apesar dos teus 22 anos....estás chumbada com 17 valores".
As pernas tremeram-me, quase desfaleci de orgulho por mim, por ter conseguido corresponder aos desafios a que ele me acometeu, por ter acabado atempadamente, por ser Socióloga, por ele ter sido a minha inspiração, por começar a bater as minhas asas e voar.
Vou sempre recordá-lo e agradecer pela pessoa que foi para mim e para tantos alunos que terão tantas ou mais boas memórias como as que eu guardo aqui, no meu coração.
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