Se me contassem eu duvidaria mas....aqui vai.
Estava eu descontraída, num clima de passeio, fotografias quando algo me faz olhar dentro de um belo jardim para um objecto que estava perfeitamente visível e daí a minha curiosidade, confesso.
Já diz a expressão antiga que " a curiosidade matou o...." nem vou dizer porque adiante se perceberá o porquê.
Bom, aproximo-me pé ante pé, porque algo me dizia que não era nada bonito e vejo uma caixa de papelão, vulgo, cartão, com pelo menos duas abas abertas para fora e lá dentro qualquer coisa com pelo.
Embranqueci! Sim, eu também fico pálida e fiquei. Recuei sem nunca perder o contacto visual com o objecto, não fosse aquilo ganhar asas e vir para cima de mim, sei lá eu.
Chamei quem estava comigo e pedi para por favor se acercar do local específico e tentar confirmar se o que eu pensava ter visto estava certo.
Disse eu:
"É impressão minha ou está ali um organismo que já teve vida, em tempos...?"
A resposta não poderia ser mais completa: "Sim, é. É um gato morto e tem moscas!"
Bom, foi ali um misto de más sensações. Tanta gente a passar ali e, ou têm palas nos olhos ou são de uma insensibilidade atroz. Insensibilidade pela criatura que não tem que jazer ali à vista de todos e que foi de livre vontade ali deixada (disso não há dúvidas), e, acima de tudo, pela saúde pública, pelo facto de até uma criança poder correr por ali perto e cair em cima do dantesco cenário.
Coube-nos fazer o correcto - alertar a entidade que se encontrava a zelar aquele espaço. Mas aqui, apenas estava a ter inicio a verdadeira odisseia! Falámos com uma pessoa que não sabia o que fazer pese embora eu lhe dissesse que o animal não podia ficar ali e lamentavelmente não seria eu a removê-lo de certeza.
E daí sugiro que contacte o veterinário municipal, o jardineiro, ao que me ia respondendo, sem fazer qualquer tentativa que, àquela hora já não estavam a trabalhar. De notar que seriam umas 17:00 horas.
Nisto tem a ideia peregrina de ligar para um qualquer Vereador, que a instou a ligar para uma tal de "Carla"; vi um revirar de olhos e percebi que a "Carla" não é flor que se cheire. Ligou à "Carla" e levou para trás e mais uma sugestão para ligar ao fulano, que depois mandou ligar para sicrano e andávamos nisto...e eu repetia que por vários motivos o cadáver do animal não podia ficar ali e que eu, já tinha feito a minha parte.
Ao lhe pedir para se dirigir comigo perto do cenário para saber a localização precisa, dá um salto, quase que dando a entender que eu e quem como estava éramos os culpados por toda a situação anómala, dizendo que está grávida e não é imune à toxoplasmose.
Bom, lá lhe fui dizendo que não estou grávida, mas que também não estou imune à toxoplasmose, mas há o dever cívico de proteger os outros; sugerimos ligar aos bombeiros, GNR...quem fosse que pudesse ir ali remover a criatura.
A proactividade daquela senhora era inexistente; desistimos de tentar que ela resolvesse e eu na minha cabeça já tinha em mente que saindo dali iria passar pelos bombeiros ou GNR e caso não me agradasse a atitude, ligaria para o Correio da Manhã a dar as coordenadas - por certo o faria e denunciaria a inacção de uma série de gente contra as normas da salubridade.
Mas...lá ao fundo estava uma carrinha com uma cor meio florescente e damos com um senhor a caminhar com uma farda esverdeada; fomos atrás dele a correr, chamámo-lo de forma bem audível e ele a fazer de conta que não ouvia, mas perante um "O senhor importa-se de parar e ouvir", ao mesmo tempo que lemos na carrinha "Sapadores da Floresta", ele lá se dignou a parar e predispor-se a ouvir-nos.
Lá expliquei e tal e ele disse que já lá ia ver; este tipo de evasiva não funciona comigo, até porque já estávamos a uns bons metros da crime scene e insisti: "Mas esse já lá vou, quando é?"
"Ah, eu vou lá agora, vou só buscar a carrinha!".
Ok, disse-lhe então para por favor nos seguir para lhe indicarmos o local e lá conseguimos que o animal fosse removido.
Como sou cobarde nestas coisas, apontei onde se encontrava a caixa e pedi-lhe para só lhe mexer quando eu me afastasse um pouco ao que ele acedeu, sorrindo (aí teve um gesto de empatia) e então lá começou a verbalizar o que estava a ver - portanto ficámos a saber que o estado de decomposição era muito avançado, tirou fotografias, atirou a caixa para a carrinha e lá foi corroborando a minha tese de que no sítio em que estava e como estava, foi por ali deixado daquela forma por alguém sem qualquer princípio.
Nisto tudo tardámos cerca de 1 hora, andámos para a frente e para trás, testemunhámos a inércia e a falta de profissionalismo de uma série de gente e o tão típico "jogo do empurra".
No fim, peço a Deus que tenha o animal no seu regaço....coitadinho.
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