Sem grandes retrospectivas, não tinha planeado grande coisa. Iniciei o ano passado de baixa médica por doença, algo que nunca me tinha ocorrido antes, o estar de baixa médica por doença.
A minha única baixa médica até então tinha sido por um motivo de luz, a maternidade. A do ano passado foi por motivos nada luzidios e inspiradores. Por isso, ainda mais comovida fiquei por, ao longo do ano, ter recebido alguns reconhecimentos profissionais. Apesar dos meses de ausência, do regresso calmo e a um ritmo diferente, arregacei mangas, continuei a ser como era até aí, pronta para os desafios e o trabalho e ter recebido tanto carinho e o meu trabalho reconhecido tanto pelos meus superiores como pelos colegas, reconfortou-me e foi algo que me ajudou a seguir esse caminho.
Também não tinha planeado as viagens e os passeios que fiz; sim, a viagem a Florença já estava mais do que marcada mas dados os desaires de saúde esteve em perspectiva ser adiada…não foi, e ainda bem que aconteceu pois foi uma das viagens de sonho de uma vida, que ainda não tinha calhado e também ficou assinalada com “done”.
O que não estava de todo nos planos foi a ida a Milão há umas semanas atrás que, teve tanto de inesperada, como de divertida, com uma companhia também inesperada mas que se revelou muito positiva. Não vi a Última Ceia do Leonardo da Vinci embora tenha estado na Igreja em que ela figura, mas dada a imprevisibilidade da viagem, não foi possível agendar a visita com a antecedência devida…foi pena. Mas consegui ver muitas outras coisas e até dar asas ao lado mais glamouroso e sair da Galeria Vittorio Emanuele com sacos de compras que tanto gosto me fizeram a mim e a quem foi agraciado com uma lembrança de tão ilustre espaço.
Os 13 anos da minha filha, aquele marco que ali se inicia e termina pelos 21, a tão temida adolescência. Sou mãe de uma adolescente. Mas como? Já??
E voltando ao período conturbado, um ano que se inicia em pleno gozo de baixa médica, não auspicia muita saúde e de facto fora o que me levou a essa baixa, tive muitos outros percalços que me levaram a médicos, urgências, exames que nunca tinha feito mas que só o seu nome nos faz estremecer, bons prognósticos, recuo nesses prognósticos, diagnósticos, protocolos…aceitação do que me poderia estar destinado e começar a pensar em coisas práticas e sobretudo na minha filha. Depois de todo o fardo que já carrega e que lhe causa tanta tristeza no olhar, sofri não por mim, mas ante a perspectiva dela tão novinha ter que sofrer por mim.
Passou….
Ah, ainda conservo activa a inscrição no ginásio. Eu!? Quase 1 ano de inscrição activa no ginásio? Sem a frequência desejável, mas com a maior frequência que alguma vez alcancei em anteriores tentativas. É um feito! Well done girl!
E fui a concertos, e fui ao teatro, e fui ao cinema, e mantive as amizades que são de facto as verdadeiras e tive surpresas de pessoas que se perdem de nós no caminho, ou somos nós a perder-mo-nos delas, mas que regressaram, ou dito de outro modo, nos voltámos a cruzar numa encruzilhada mais lá à frente e o reencontro mostrou-nos que somos pessoas boas entre nós, que nós fazemos bem, nesta vida cheia de desencontros, falta de empatia, amor ao próximo, sentimentos e respeito.
Que bom que foi e que é voltar a receber certos abraços.
É gratidão que sinto. Faltam apontamentos sim, mas estou no processo de olhar para o copo e vê-lo a ganhar líquido, gota a gota.
Hoje foi dia de chegar a casa após uns dias ausente e arredar móveis e sofá e limpar por baixo. Não que não o faça amiúde; não sou do género de varrer para debaixo do tapete, mas é algo que não faço todas as semanas. Portanto deu-me um ataque de síndrome do ninho sem estar grávida e pus-me a limpar aqueles sítios onde o aspirador e a esfregona não chegam sempre. Com fervor. Muito fervor. Esfregar e desinfectar tudo, ver a água no balde ligeiramente pardacenta e materializar naquela visão toda a má energia e maus momentos do ano passado. E foram embora, esgoto abaixo, desaguar no mar e recomeçar um ciclo, desta vez melhor.
Mais uma vez, sem planos. Sei apenas que quero e preciso ler mais. Na verdade preciso ler, porque não tenho lido nada, em comparação com o que lia e absorvia há uns anos atrás. E também quero ser a mãe de que a minha filha precisa mais do que nunca; em amor, presença, suporte e em tudo o que ela precisar.
Mas não tenho planos, deixei de os ter. Resta-me sonhar.
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