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Aqueles prazeres infundados que só entende quem os tem

 Nunca entrei numa daquelas lavandarias comunitárias, Self Service vá, que proliferam como cogumelos.

Confesso que o conceito me provoca algum desconforto, sei que é um desconforto meu e talvez de cariz cultural, mas ele existe.

O ponto de partida é não me imaginar a sair de casa com uma trouxa de roupa por lavar, num cesto ou num saco gigante tipo os do Ikea, entrar num local desses, retirar as minhas peças, mais ou menos íntimas e colocá-las numa cuba onde esteve roupa sei lá de quem; depois, esperar pelo ciclo de lavagem ao pé de pessoas na mesma situação que eu, a ouvir conversas que não quero e a assistir a situações que não me interessam para nada; terminado o ciclo, o inverso, ou seja, voltar a colocar a roupa já lavada, na máquina de secar, and so on.

No fim, voltar a retirar tudo, colocar no cesto ou no saco e regressar a casa com a trouxa, qual tempos idos em que se ia lavar ao tanque da freguesia.

Não me imagino, mas convém não enfatizar muito pois, quanto mais se atira um "eu nunca" para o ar, mais ele nos vai cair em cima.

E perguntam agora se, o que consta nas linhas acima é algo crítico, onde é que o prazer entra na equação? Ou será inequação!?

Pois bem, nos últimos tempos entrou o Balzac na minha vida; lá está um "eu nunca" terei um cão, "eu nunca" sairia de casa para passear um cachorro...até me ser oferecido o pior Beagle do mundo, eu ter engolido a palavra "nunca" e estar perdidamente enamorada daquela criatura canina que me tem causado bastante prejuízo em livros, móveis e roupa interior que teima em surripiar e destruir sofregamente.

E então, tenho calcorreado o sítio onde moro e arredores a pé como nunca antes havia feito e passo, lá está, por uma infinidade de lavandarias dessa estirpe. E não é que, qual ópio ou rapé, me deleito com o odor que sai dos extractores das máquinas de secar, odor a limpo, a desinfectado e aquilo dá-me uma sensação inexplicável, mas boa e prazerosa!?

E dou comigo a desviar por vezes a rota apenas e só para sentir aquele odor que chega à rua e penso: há pessoas com cada panca! (ou seja, eu própria)

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