É uma menina incrível. Não é por ser minha que o digo, mas porque o é mesmo. É unânime entre todos quantos lidam com ela mais de perto.
E se até há algum tempo atrás a parte preocupada nesta relação era eu, por motivos óbvios associados ao meu papel de mãe, muito de repente comecei a notar nela um crescente cuidado comigo. Questiona amiúde se estou bem, se me encontro mais calada verbaliza a sua preocupação, tapa-me quando dormito à tarde no sofá e tem sempre um mimo, uma palavra de amor, uma atenção. E fá-lo de forma totalmente altruísta.
Eu dou-lhe a liberdade possível, a que não tive. Não lhe restrinjo presença em festas, estar em casa das amigas, actividades radicais, férias em grupo, acampamentos. Preocupar-me, preocupo sempre, mas não deixo que isso me tolde o raciocínio e que a impessa de viver a sua infância. Não, não vou passar a ser a personificação de uma austeridade que tanto me toldou e não impediu que tivesse vivido, ainda assim, experiências menos boas.
Mas ela lá deve ter calculado ou considerado que, apesar de a deixar viver, me preocupo com o seu bem estar, a sua segurança e a sua integridade física e sem que nada o fizesse prever, surpreendeu- me com uma afirmação algo apocalíptica atrevo-me a dizer:
“Mãe, se alguma vez me acontecer alguma coisa quando me deixas participar em actividades, promete que nunca te sentirás culpada. A culpa nunca será tua e, aconteça o que acontecer, sabes sempre que eu estava feliz.”
WOW, que mescla de emoções e sentimentos depois de ouvir isto. Acho que embranqueci. Fiquei sem pinga de sangue. Não só pelo teor do comentário e de todas as variáveis que ele encerra, como com a consciência dela e, acima de tudo a inteligência emocional que ela demonstrou ter. Sim, eu sou a personificação da CULPA. Infelizmente fizeram-me carregar ao longo da vida culpas que não tive e não tenho. Convenceram-me que os próprios erros, falhas e omissões, ou eram meus, ou eram consequência de actos meus. Mas não são, nem foram.
A minha filha, sem saber destes assombros negros que me atormentam, tocou no factor culpa, e antes que eu a pudesse sequer sentir, procurou livrar-me desse peso. É de facto um ser humano incrível e merece tudo de bom que a vida tem para oferecer. É o que mais desejo. No fundo que eu lhe consiga proporcionar momentos de felicidade, ou que seja o veículo para que ela os alcance.
A minha filha!? A minha filha é, entre outras coisas, uma pessoa, na sua génese e essência, muito bonita.
Comentários